Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos prevê que empresas instalem mais de 5 mil postos de entrega voluntária no país até 2025; especialista alerta sobre os riscos à saúde ocasionados pela exposição a estes objetos.
O debate sobre o descarte correto e a necessidade da reciclagem de lixo eletrônico tem ganhado força nas últimas semanas em diferentes localidades do país, impulsionado pelo Dia Internacional do Lixo Eletrônico – celebrado pelo terceiro ano seguido no último dia 14 de outubro. A data visa promover a conscientização da população sobre a necessidade de que geradores elétricos, como pilhas e baterias, e aparelhos eletrônicos dos mais diversos tipos e tamanhos sejam enjeitados de forma adequada. Dentre os riscos causados pela exposição excessiva a lixos eletrônicos não descartados, guardados indevidamente no ambiente doméstico, estão a possibilidade de contaminação por metais pesados que compõem estes objetos.
Nesse sentido, ações governamentais como a “Natal Limpa e Sustentável”, promovida pela prefeitura da capital potiguar, que tem instalado pela cidade coletores de eletroeletrônicos; e a recente inauguração da Central de Logística Reversa de Eletroeletrônicos, no Rio de Janeiro, junto a outros 271 pontos de entrega voluntária (PEV) para o descarte correto destes objetos em todo território fluminense; somam-se a outras iniciativas de empresas de telefonia, como Telefónica e Vivo, e de ONGs e associações voltadas à logística reversa de lixo eletrônico, como a Abree (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodoméstico) e a Green Eletron, entre outras.
Políticas públicas e iniciativas governamentais
Tais iniciativas vão ao encontro de políticas públicas elaboradas ao longo dos últimos anos para que o país avance na questão da sustentabilidade e na promoção da logística reversa para o lixo eletrônico gerado no país.
Em 2019, foi firmado o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos, um documento complementar à PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), elaborado pelo governo federal e pelas entidades representativas do setor eletroeletrônico e formalizado pelo Decreto Federal nº 10.240/2020.
Institui-se, com isso, metas para fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes sobre a quantidade de PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) a serem instalados, o número de cidades atendidas e o percentual de aparelhos eletroeletrônicos a serem coletados e destinados corretamente.
Em um país que ocupa a quinta posição global na geração de lixo eletrônico, com uma população que descartou, apenas em 2019, de acordo com relatório desenvolvido pela Universidade das Nações Unidas, mais de 2 milhões de toneladas de resíduos, com uma taxa de reciclagem de menos de 3%, tais ações são, portanto, urgentes.
Além disso, necessidade da maior conscientização desta questão por parte da população também é de extrema importância: de acordo com a pesquisa “Resíduos eletrônicos no Brasil – 2021”, realizada pela Green Eletron em parceria com a empresa Radar Pesquisas e divulgada no início de outubro, a maior parte dos brasileiros (87%) guarda algum tipo de eletroeletrônico sem utilidade em casa por mais de 2 meses e 25% da população nunca levou seus resíduos eletrônicos até um ponto de coleta.
ixo eletrônico e metais pesados
A manutenção de lixo eletrônico, como pilhas, baterias, lâmpadas e antigos aparelhos de celular em casa, de acordo com especialistas da área de saúde, pode gerar exposição a metais pesados potencialmente danosos à saúde.
Um Informe disponibilizado pela ONG E-Letro, que atua na recuperação e reciclagem de aparelhos eletrônicos, dá conta que em um aparelho celular são encontrados metais como cobre, ferro, alumínio, ouro, prata, paládio, estanho e berílio, além de outros, considerados pesados e contaminantes, como níquel, cromo, cobalto, chumbo, cádmio, arsênio e o mercúrio.
De acordo com o Dr. Jeferson Molina, responsável pela empresa Quantic Health, a exposição a estes metais pesados podem causar danos aos sistemas neurológico, muscular e esquelético; ao trato cardíaco e respiratório; e a diversos órgãos e vísceras do corpo humano.
“Em um primeiro contato, a pessoa não sente os sintomas, mas eles vêm dando sinais com o passar do tempo”, afirma o especialista. “Geralmente, a pessoa que foi intoxicada com metais pesados apresenta sinais e sintomas como fadiga crônica, dor de cabeça, queda hormonal, cansaço, indisposição, dor de cabeça, náusea, vômitos, diarréia, entre outros”.
Dr. Molina acrescenta, ainda, que a toxicidade destes metais pode levar a doenças como neurodegeneração do sistema nervoso, anemia, alzheimer, Parkinson, insuficiência renal crônica e câncer, entre outras enfermidades.
Tais riscos à saúde oferecidos pela exposição a metais pesados presentes em lixos eletrônicos acendem, portanto, o sinal de alerta sobre uma questão que tem pouco esclarecimento por parte da população. De acordo com a já citada pesquisa Green Eletron, apesar de 87% dos brasileiros já ter ouvido falar falar em lixo eletrônico, um terço (33%) acredita que esse lixo está relacionado ao meio digital, como spam, e-mails, fotos ou arquivos, por exemplo.
O caminho a ser percorrido já está traçado: o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos prevê que, de forma individual ou coletiva, as empresas instalem, gradualmente – de 2021 até 2025 -, mais de 5 mil PEVs nas 400 maiores cidades do país, coletando e destinando corretamente o equivalente em peso a 17% dos produtos colocados no mercado em 2018, ano definido como base.
Para mais informações, basta acessar: http://jefersonmolina.com.br/site/